
Na mitologia grega, Morfeu é um dos deuses dos sonhos, filho de Hipnos, deus do sono. A lenda conta que ele possuía a capacidade de se metamorfosear tomando a aparência das pessoas. Quando alguém dorme, lá está ele assumindo a forma dos mortais, das figuras humanas que povoam os sonhos. Ícelon e Fântaso são seus irmãos. O primeiro se transforma em animais, o segundo em tudo o mais. Visitam reis e poderosos, pobres e gente comum.
O Sono em tantos mil não tem ministro
Mais destro que Morfeu, que melhor finja
O rosto, o modo, a voz, o traje, o passo,
A própria locução; porém somente
Este afigura os homens1
Este verso de Ovídio, poeta nascido na Itália no ano 43 a.C., se refere a Morfeu que com suas grandes asas viaja por toda parte imiscuindo-se no sono de cada um.
O sono e os sonhos, algo tão familiar a todas as pessoas, não poderia deixar de ser alvo das reflexões de Allan Kardec quando teve a oportunidade de buscar esclarecimentos com os Espíritos s uperiores. Dedicou-lhe 14 questões em O Livro dos Espíritos, além de fazer-lhe referência no livro >A Gênese e em alguns artigos da >Revista Espírita.
Desde a Antiguidade, os sonhos foram envolvidos numa aura de
mistério e fantasia. Na cultura de todos os povos sempre houve um interesse em
desvendar os segredos contidos nos sonhos, havendo aquelas pessoas que se
diziam capazes de interpretar os seus significados. Com Freud e a sua famosa
obra >A Interpretação dos Sonhos
A Doutrina Espírita mostra o momento do sono como sendo a
oportunidade que o Espírito tem para, desdobrando-se, tomar contato mais
direto com o mundo espiritual e com a sua realidade íntima. No sono a alma
adquire uma certa liberdade aliviando as tensões geradas pela vida na
matéria. Quanto aos sonhos, estes seriam basicamente a lembrança fragmentada
ou simbólica, lúcida ou ininteligível das vivências da alma desligada
parcialmente do corpo.
Por vezes, os sonhos tomam o caráter de pesadelo. Porém, isto
depende da interpretação que cada um dê àquilo que está sendo
experienciado. Encontros com Espíritos obsessores são passíveis de ocorrer
durante o sono, alimentando perseguições, bem como reuniões macabras com o
intuito de formular e acompanhar planos de maldades individuais ou coletivas.
Os sonhos desse tipo geralmente são chamados de pesadelos. Várias outras
situações podem ser assim interpretadas: 1) uma pessoa que dorme,
encontrando-se em Espírito num local habitado por Espíritos inferiores, pode
sentir medo ou assombro, retornando assustada ao corpo; 2) pode receber um
conselho que lhe constranja fortemente, imaginando que teve um encontro
infeliz; 3) uma lembrança terrível de qualquer gênero, de situação vivida
nesta vida ou em outra encarnação, também pode ser tida como pesadelo.
Assim, sonho comum ou pesadelo, depende de como cada um encare as
circunstâncias a que se exponha como Espírito desprendido do corpo
físico.
Segundo o >Michaelis
A oração antes de dormir representa um maravilhoso recurso,
quando através dela podemos evocar os Espíritos mais esclarecidos que nós, a
fim de que estejamos com eles durante os instantes em que o corpo repousa.
Aprenderemos com eles mais facilmente quanto a alma está mais livre e nos
tornaremos mais aptos a viver com equilíbrio a cada dia. Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado
desta verdade, o seu pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e
peça o conselho dos bons Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a
fim de que venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são
concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais
corajoso diante da adversidade2. 1
OVÍDIO. >Metamorfoses.
Excertos traduzidos por Bocage. 2. Edição. Editora Martin Claret:
2006. 2
KARDEC, Allan. >O Evangelho Segundo o
Espiritismo.jpg. Tradução de Guillon Ribeiro. 120.
Edição. Federação Espírita Brasileira: 1944.