
Ele praticamente atuou em todas as esferas do movimento espírita com grande dedicação. Homem de verbalização fácil, se comunicava com facilidade sobre qualquer assunto. Possuía a palavra amiga em qualquer ocasião, sabia confortar com moderação, esclarecia com simplicidade e tinha intimidade e conhecimento doutrinário, a ponto de se tornar um orador indispensável. Tinha por característica o bom humor, a gentileza e a excelente memória fotográfica, aliás, essa última chamava atenção pelo requinte de introduzir em qualquer situação acontecimentos importantes ocorridos no Brasil e no mundo, com uma riqueza de detalhes que chegava a surpreender os gostos mais exigentes.
Gérson Monteiro, como era conhecido e saudado por todos, possuía uma simpatia natural de fácil acesso a quem desejasse falar com ele, independente de classe ou sobre assuntos pertinentes ao espiritismo ou não, tanto que adorava futebol e chegava saudar os confrades rubro-negros comentando sempre os jogos do time querido, fazendo considerações interessantes.
Eu tive por quase três décadas o concurso da sua amizade e sempre admirei a forma como encarava as perdas, as lutas e as alegrias da vida.
Sempre ativo e interativo era um homem obstinado pelo serviço do bem. Comparecia a tantos eventos para prestigiar e ressaltar os trabalhos dos companheiros, numa atitude legítima de reconhecimento de ideal espírita.
Por dezoito anos eu estive à frente da ¨Cia. Spirito Teatral¨, quando recebi o convite da FEB para uma conversa a dois, com o então presidente Juvanir Borges de Souza.
Ele falou da ¨Campanha em Defesa da Vida¨ e da necessidade de divulgá-la ao máximo, porque se tratava de quatro assuntos complexos, onde teríamos que atingir o máximo de pessoas, quanto ao esclarecimento sobre as consequências do suicídio, aborto, eutanásia e pena de morte.
Mas como adaptar e transformar assuntos tão específicos em dramaturgia em três meses?
Decidi aceitar o desafio, mesmo sabendo que a tarefa seria difícil e complicada, pois, eu não sabia nem por onde começar.
Parti em seguida para a Rádio Rio de Janeiro, onde participaria do programa Falando de Espiritismo, sob a condução da querida amiga Martha Baptista, quando para minha alegria encontrei no corredor da rádio o Gérson Monteiro, que pediu para dar um pulo na sala dele, porque queria presentear-me com o livro Suicídio e suas Consequências, que ele havia organizado em prol da ¨Campanha em Defesa da Vida¨.
Sabemos que o acaso não existe, mas confesso que gelei de imediato.
Recebi o livro das mãos do autor e passei vistas sobre algumas páginas, enquanto ele olhava-me atento.
Espirituoso, disse-me:
- Chefe, o livro já é seu, leie-o depois, porque daqui a pouco você vai entrar no ar.
- Gérson, eu estou vindo da FEB e o presidente pediu-me para escrever uma peça sobre exatamente os temas que você organizou no livro.
Ele sorriu, dizendo que o Congresso Nacional estava pronto para votar a qualquer momento sobre a liberação do aborto.
Então, apressei-me em perguntá-lo:
- Você permitiria que eu adaptasse o livro para o teatro?
Espantado, respondeu-me com outra pergunta:
- Isso é possível?!
- Claro que sim. Pelo pouco que li, vi que há nele condições de adaptá-lo para o teatro.
- Então, está liberado!
- Na semana que vem, eu trago o resultado.
- Combinado.
Antes de sair da sala, ele solicitou que antes de ler o livro, fizesse uma prece e pedisse ao Espírito Yvone do Amaral Pereira que acompanhasse o projeto.
Na semana seguinte, conforme o combinado, estava em sua mesa o projeto pronto, onde ele leu atentamente, fez alguns cortes e sugestões, perguntando-me qual seria o título da peça.
Respondi confiante:
- Esperança e Vida.
Ele sorriu e disse:
- Ótimo! Excelente título! Ele é leve e vai fazer com que as pessoas reflitam sobre os temas propostos, com leveza.
- Essa é a intenção.
- Vamos à montagem e que Jesus nos abençoe!
A alegria estava estampada na face do amigo, quando fez outra pergunta:
- A estreia pode ser na USERJ?
- Claro que sim! Vai ser um acontecimento maravilhoso!
- Eu também acho.
Devo ressaltar que foi uma estreia magnífica, com lotação total e muito aplaudido pelo público que compareceu naquela tarde memorável e histórica.
Durante três anos a peça esteve em cartaz, tendo um painel estatístico na entrada dos teatros, para que o público se familiarizasse com os temas em questão e tomassem conhecimento da importância da Campanha da FEB.
Tivemos o apoio cultural da Capemi, através do Cesar Reis, além de contar com as presenças de Gérson Monteiro e dos artistas da peça Rita Luz, Márcio André, Maurício Pereira e Marcel Cavalcante, nos debates abertos após as apresentações, respondendo perguntas e tirando dúvidas sobre o exposto.